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Texto: PC Cavalcanti | Fotos: PC Cavalcanti
A professora Iraíldo Leandro da Silva lançou na tarde de sexta-feira (13), no auditório da GRA/Arcoverde, uma cartilha que fala sobre as relações étnico-raciais e culturais afro-brasileira. O objetivo da obra é fazer com que a lei 10.639/2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para inclusão no currículo oficial da rede de ensino, a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-brasileira”, seja aplicada, a princípio, nos 15 municípios jurisdicionados a gerência regional. Com a implantação do ensino da história da África e da cultura Afro-brasileira, a autora espera despertar na sociedade, a necessidade de combater os preconceitos e reduzir as desigualdades nas escolas e também na sociedade civil.
A cartilha contou também com a colaboração de educadores, que implantaram em suas escolas, vários projetos sobre o tema, mostrando aos seus alunos toda a riqueza da cultura negra. Os trabalhos publicados na cartilha foram divididos em categorias. Em Comunicação Oral, por exemplo, a unidade de ensino vencedora foi à escola estadual Presidente Médici, que apresentou um trabalho com o título “Leitura e Negritude com Paixão”, tendo como responsáveis os educadores Elisabethe Barbosa, Francisco Romildo e Rislania Kerly. Já o primeiro lugar na categoria Pôster, ficou com o colégio Cardeal Arcoverde, que apresentou o trabalho “Estes formadores do Brasil”, de responsabilidade do professor Jaelson Gomes.
A cerimônia de lançamento da cartilha contou com presenças de educadores de escolas de Arcoverde e também de outras cidades, além de representantes de diversos segmentos da sociedade. Antes dos discursos das autoridades, os músicos da Orquestra Sertões, deram uma demonstração de alguns ritmos africanos. A cada pronunciamento, os oradores destacavam a importância do trabalho da professora Iraílda, no que se refere à valorização do povo negro e sua cultura, especialmente em um país como o Brasil. Sem esconder a felicidade, o nervosismo e principalmente, a certeza do dever cumprido, a autora da cartilha emocionou os colegas quando contou às dificuldades que enfrentou em toda a sua vida para realizar o seu grande sonho, que era simplesmente estudar e ter oportunidades na vida.
Segundo a gestora da GRA/Arcoverde, a colaboração do órgão com o projeto da professora Iraílda, a princípio foi muito tímida. Elma contou ao JORNAL CORREIO DA CIDADE que, ao perceber o engajamento de um grande número de pessoas com a elaboração da cartilha, tratou logo de dispor uma maior atenção ao projeto, e “dar uma passo bem maior do que aquele que vínhamos dando, que eram simplesmente trabalhos pontuais nas escolas”, contou a gestora. Para ela, a própria história de vida da professora é um exemplo que “pode ser repassado para os nossos alunos e professores, para que eles saibam que, quando há vontade, é possível chegar lá”, finalizou a gestora da GRA/Arcoverde.
A professora Iraílda Leandro disse ao JORNAL CORREIO DA CIDADE, que a ideia de produzir a cartilha nasceu da necessidade, e principalmente da procura dos professores por material que lhes proporcionassem trabalhar a questão étnico-racial nas escolas. “Com o acesso a cartilha, os professores vão ter ideia de como se trabalhar a questão Afro-brasileira dentro da escola, porque nela há os elementos necessários para esse trabalho, que fala também da lei 10.639/2003, que torna obrigatório o ensino da história e da cultural Afro—brasileira na escola. Infelizmente, ainda é um processo muito lento. Quase onze anos depois da sua criação, ainda não está sendo cumprido nas escolas do nosso país. Não é só na região de Arcoverde. É no Brasil Inteiro”, alerta a professora, que deixou uma mensagem de perseveranças para as pessoas que passam pelas mesmas dificuldades que ela enfrentou no caminho até chegar aonde chegou e conquistar o reconhecimento da sociedade.
“Deixo uma mensagem de luta e de persistência. Desistir nunca! Porque se já somos discriminados na sociedade porque se é negros, pobre, ou homossexual. Qualquer diferença que a gente tenha, somos discriminados dentro do sistema escolar. Nós nunca podemos desistir e nem baixar as nossas cabeças. Hoje existe a lei que diz que preconceito é crime inafiançável. Se você se sente ferido na sua dignidade, você tem que procurar os seus direitos. Eu quero ver mais negros e pobres ocupando os postos de trabalhos e sendo médicos, engenheiros, advogados, juízes e bancários. Hoje, infelizmente, a gente não ver tanto isso. Nós que somos negros, temos é que levantar a cabeça e dar valor a nós mesmos. Eu sou um exemplo disso”, finalizou.
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