ANÍBAL CURSINO: Um prefeito que era a cara do povo

Ex-prefeito nos braços do povo. A cena ficou registrada na fotografia e na memória de muitos buiquenses

“De temperamento afirmativo não gosta de promessas e, quando promete é pra cumprir”. Foi assim que o jornal Diário de Pernambuco do sábado, 25 de janeiro de 1969, se referiu ao prefeito Aníbal Cursino, numa matéria que destacava o impressionante ritmo de obras implantado no município de Buíque em apenas 18 meses da sua primeira passagem pela prefeitura. De tradicional família buiquense, o filho do senhor Manoel Barbosa de Siqueira e dona Quitéria Cursino de Siqueira, nasceu no dia 24 de outubro de 1921 em Buíque. Dono de uma inteligência invejável e determinação incomparável, desde muito cedo se dedicou ao trabalho e aos 17 anos de idade, o adolescente Aníbal Cursino já exercia o cargo de funcionário público no município entre os anos de 1938 a 1962.

Nos 24 anos como funcionário público municipal, seu Aníbal exerceu cargos importantes: Entre os anos de 1945 e 1946 foi Partidor e Contador da Comarca de Buíque; entre 1945 e 1957 foi correspondente do IAPC; entre 1955 e 1957 ocupou o cargo de Investigador de Menores do município; entre os anos de 1959 e 1961 atuou com Promotor Público Adjunto e em 1962 conquistou o cargo de Funcionário Público Federal no Ministério da Saúde. 

No início dos anos sessenta decidiu entrar na política e foi eleito vereador, chegando a presidir a Câmara. Na qualidade de presidente, assumiu a prefeitura no dia 1 de março de 1967, em face das renúncias do prefeito e do seu vice. No ano da sua posse, o prefeito encontrou um orçamento de vigente de NCr$ 79.631,00, aumentando-o em 1968 para NCr$ 199.640,00, transmitindo para o ano corrente uma proposta orçamentária da ordem de NCr$ 350.000,00. Em 1972 disputou a eleição majoritária tendo como seu vice-prefeito o empresário Jarbas Freire, da vila Guanumby. Depois de uma eleição memorável que entrou para a história do município, comandou a PMB de janeiro de 1973 a 1977. Com o termino do mandato de prefeito, assumiu a secretaria de finanças de Arcoverde, o que lhe rendeu o prêmio de melhor secretário do ano. No seu extenso currículo ainda consta a direção administrativa da Fábrica de Doces de Arcoverde, a vice-presidência da CODEAM, Diretor Tesoureiro da Associação de Proteção e Assistência a Maternidade e a infância de Buíque, além de Agente da Previdência Social na cidade de Jaboatão.

Numa época em que os recursos eram escassos e o gestor público tinha que usar de muita criatividade para administrar o município, o então prefeito Annibal Cursino implantou um sistema de gestão voltado para o desenvolvimento sustentável, com obras nos quatro cantos do município e em todas as áreas. Na educação, por exemplo, 15 prédios escolares foram construídos e mobilhados na zona rural, duas bibliotecas (Municipal e Mobral) foram criadas, Secretaria de Educação e Cultura na sede e cursos de supletivos. Na área de saúde um posto foi construído na Vila do Carneiro, foram ampliados e modernizados os postos de saúde das vilas de Guanumby e Catimbau, com atendimento médico e distribuição de remédios, além de o auxílio da Maternidade Alcides Cursino. Os cemitérios da vila do Carneiro e do povoado Riachão foram construídos da gestão Annibal Cursino. Na área de saneamento, foram construídos cerca de 1.080 metros de galerias em toda a cidade.

Quando o assunto é a urbanização do município, para muitos buiquenses, especialmente os mais velhos, ninguém trabalhou mais do que o ex-prefeito Annibal Cursino. Só no sede e nas vilas do Guanumby, Carneiro e Catimbau, foram construídos mais de 30.500 metros quadrados de calçamento, abertura das Avenidas Aurora Laerte Cavalcanti, João Hiceno, Rua nova (ligando a Travessa Siqueira Campos com a Travessa Aurora Laerte Cavalcanti), continuação da Avenida Amélia Cavalcanti (ligando com a estrada de Tupanatinga), construção de mais de 900 quilômetros de estradas e rodagens em todo o município (inclusive com bueiros), indenização de prédios para abertura de avenidas e a construção do mercado e açougue público na vila do Catimbau. As vilas de Guanumby, Carneiro e Catimbau ganharam iluminadas com lâmpadas a vapor de mercúrio. E a lista de obras que marcaram o mandato do ex-prefeito parece não ter fim. Ela conta ainda com o melhoramento das instalações do prédio sede da prefeitura, conclusão do matadouro público, aquisição de uma torre de TV, aquisição de veículos, instalação do antigo BANDEPE, ligação da cidade através 27 quilômetros de linha física, à rede telefônica de Arcoverde, possibilitando a comunicação com todo o Estado, e construção de praças.

Um fato curioso simboliza muito bem o que foi a administração Annibal Cursino: Ao assumir a prefeitura, o jovem prefeito se deparou com uma situação inusitada: A limpeza da cidade era feita por uma carroça puxada por um boi chamado Aliança. Incomodado com a situação, seu Aníbal não mediu esforços para mudar aquela realidade e conseguiu adquirir uma frota de veículos composta de uma patrol, uma brasília, uma caçamba, um trator, um carro pipa, um veículo para o transporte de carne e outro para realizar a limpeza pública, além de manter em excelente estado de conservação os demais veículos da prefeitura.

O sonho de construir uma maternidade no município começou no ano de 1962, no posto de puericultura, onde hoje funciona a Secretaria Municipal de Saúde. Na época, lá era realizado a distribuição de leite e remédios que vinham da Alemanha através o padre José Kehrle, amigo de longa data do prefeito Aníbal. Ainda em 1962, a maternidade começou a ser construída com o apoio do Deputado Federal Estácio Souto Maior (compadre do prefeito), através de verbas do Vale do São Francisco. Em julho de 1966 a Maternidade Alcides Cursino começou a funcionar com um bloco cirúrgico e um aparelho de Raio-X, conseguidos pelo Deputado na época Ricardo Fiúza.

No final da década de 90 a Unidade de Saúde filantrópica começou a enfrentar as primeiras dificuldades. Com a municipalização da saúde pública, a situação financeira foi agravada pela falta de compromisso do poder público. Em 2001, a maternidade paralisou as suas atividades por 15 dias, só retornando pelo acordo que foi feito, na época com o prefeito Arquimedes Valença, que celebrou um convênio de prestação de serviços médico-ambulatorial. No início deste ano o cancelamento do convênio com a Prefeitura Municipal ocasionou no fechamento por mais de 15 dias da Unidade de Saúde.

“Desde a sua fundação até hoje, mais de 30 mil crianças nasceram ali. São realizados mais de três mil atendimentos médicos por mês naquela Unidade de Saúde. Acredito que o objetivo que eu e o Padre Kehrle sonhamos foi alcançado. Se mais não fizemos, foi por falta de ajuda, de condições financeiras. Hoje, apesar de ainda passar por crise financeira, é, na minha opinião, o cartão posta da cidade de Buíque e, até aqueles que não gostam, de uma maneira ou de outra, já usufruíram dos seus serviços”, desabafa o ex-prefeito.

Hoje, aos 88 anos de idade, seu Aníbal vive com a família na Capital Recife. Seu zelo com o dinheiro público, sua determinação e criatividade de governar muito bem um município tão grande e cheio de problemas como é Buíque, numa época em que praticamente não existiam recursos para movimentar a máquina administrativa, o credencia como um dos maiores e melhores homens públicos que já governaram Buíque. Que o seu exemplo sirva de lição para a nossa e principalmente, para as futuras gerações buiquenses.

“O grande segredo do administrador é respeitar e zelar pelos recursos públicos. Algo raro. Antes não tínhamos os recursos que se tem hoje, mas existia seriedade e compromisso em fazer o melhor com o pouco que se tinha”, ensina o ex-prefeito de Buíque, Aníbal Cursino de Siqueira.